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terça-feira, 11 de julho de 2017

O genocídio da juventude negra

Dados alarmantes do genocídio da juventude negra no Brasil foram divulgados no relatório “Atlas da Violência 2017”,  no último dia 05 de junho. São números que mostram um crescimento de homicídios de jovens negros com baixo nível escolar, que são as principais vítimas das mortes por armas de fogo.
O documento, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)  em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que a taxa de homicídio de brancos caiu 12,2%, já entre os afrodescendentes cresceu 18.2%. O fato prova que nosso país ainda vive sob o signo da desigualdade racial e social e, consequentemente, resulta na violência que vemos diariamente no noticiário de qualquer canto do Brasil.
Tais mortes são registradas, com grande concentração, nos bairros da periferia e nas zonas mais carentes, onde se concentra o maior número de jovens sem oportunidades e o poder público se faz ausente. Esta carência de políticas públicas para os nossos jovens se mostra intensamente visível.
Podemos, sim, constatar o genocídio contra jovens negros e pobres, então encurralados em uma espécie de experimento social que, há muito tempo, se sabe ter dado errado. Não há mais tempo para tentativas desestruturadas e desconexas da realidade do país. Precisamos buscar alternativas que possam realmente dar ocupação, perspectiva e retirar esses jovens da zona de risco.
Não há dúvidas de que este quadro só será alterado a partir do momento que o poder público se debruce  seriamente sobre o problema com a intenção de tentar amenizar o sofrimento das famílias negras brasileiras e reverter essa trágica estatística, que supera baixas de guerra nos países em conflitos internacionais.
Rondônia
Na média nacional, essa diferença contra os negros aumentou 34,7%, enquanto em Rondônia os dados, entre os anos de 2005 e 2015, mostram que houve uma queda acentuada de 6,5%. No entanto, no biênio 2014 e 2015, foi registrado um crescimento de 4,3% de homicídios de negros, o que traz de volta a preocupação com a escalada da violência.
Precisamos mudar este quadro negativo de extermínio, cobrar do poder público, seja na esfera federal, estadual e municipal, a implantação de políticas públicas voltadas para nossa juventude que contem com a adoção do ensino de tempo integral. Isso possibilitará uma ocupação para as nossas crianças e jovens nas escolas, a partir de atividades sadias e educativas.
Outro ponto importante é a ausência de áreas de lazer e esportes nos bairros de periferia, a falta de compromisso do Estado com o fomento a espaços esportivos para nossos jovens de classes mais carentes, a capacitação para que eles possam entrar ao mercado de trabalho, assim como promover ações culturais em escolas de músicas e danças que também são ferramentas disponíveis que favorecem a saída da ociosidade.
Esperamos que este relatório, além de ser um duro retrato da realidade atual, seja capaz de comover e provocar a reflexão entre nossas autoridades a fim de que se percebam o que realmente ocorre um genocídio do jovem negro, em especial dos que sofrem com discriminação e racismo escancarado em nosso país.
Mecanismos precisam ser criados com urgência. Verba pública para isso existe. É preciso estar vigilante e exigir que a proteção do jovem seja uma prioridade elementar de qualquer gestão pública com viés humanista e democrático.

Antônio Neto é secretario-geral do Movimento Negro do PDT no estado de Rondônia e vice-Presidente do Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (Cepir).

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